FESTAS E EVENTOS PÚBLICOS
Janeiro – Festa de Lemba e Mikaia
A Festa de Lemba e Mikaia celebra dois grandes pilares espirituais no Candomblé de Angola: a ancestralidade profunda e o poder das águas que geram e sustentam a vida. Lemba é o Nkisse ancestral da sabedoria, da serenidade e da memória sagrada. Ele representa o tempo, o equilíbrio e a força que vem do silêncio e da maturidade espiritual.
Mikaia, por sua vez, é a grande mãe das águas, senhora dos rios, mares e da fertilidade. Equivalente a Iemanjá na tradição bantu, Mikaia guarda e acolhe a humanidade com seu axé de cuidado, proteção e regeneração.
Durante essa festa, reverencia-se o ciclo da vida, o ventre das águas e a ancestralidade que nos orienta. É um momento de conexão com a essência, com a força do feminino sagrado e com a sabedoria que corre como rio, fluindo entre mundos e gerações.
Abril – Festa dos Caçadores
Na Roça Itaussu, a Festa dos Caçadores é um dos momentos mais sagrados e vibrantes do calendário ancestral. É o dia em que saudamos e celebramos Mutakalambo (Oxóssi), o senhor das matas e do alimento; Roxi (Ogum), o guerreiro da estrada e da justiça; e Aluvaia (Exu), o mensageiro, guardião dos caminhos e do movimento.
É uma festa de cores fortes, tambores firmes e cantos antigos. Cada passo na dança honra os encantados que abriram trilhas na mata e na alma. O fogo aceso no xirê ilumina não só a noite, mas também os corações daqueles que caminham com fé e ancestralidade.
Na força dos Caçadores, celebramos o sustento, a luta justa e o axé que faz tudo se mover.
Junho – Festa de Karamoce, Zazi e Matamba
A Festa de Karamoce, Zazi e Matamba celebra três grandes forças do Candomblé de Angola, ligadas ao conhecimento, ao poder da palavra, à justiça e à realeza ancestral.
Karamoce é o Nkisse da sabedoria e da fala sagrada, senhor dos segredos e dos conselhos que orientam o povo. Zazi (N’zazi) representa o trovão, o fogo do céu, a força da justiça que vem com o raio, corrigindo e purificando.
Matamba, por sua vez, é a grande rainha ancestral, símbolo de poder feminino, nobreza espiritual e proteção das linhagens.
Durante essa festa, canta-se a força dos que governam com sabedoria e coragem. É um momento de reafirmação dos princípios que regem a comunidade: respeito, justiça, liderança e tradição. O axé se manifesta em cada canto, em cada gesto, honrando o sagrado que vive na palavra, no trovão e na realeza ancestral.
Agosto – Kukuana
A festa de Kukuana é uma celebração tradicional do Candomblé de Angola dedicada à ancestralidade e à força vital que move a natureza e os seres humanos. É um momento de reverência aos Nkisses (forças da natureza), onde se celebra o equilíbrio entre o mundo espiritual e o mundo material.
Durante o Kukuana, cânticos, danças e oferendas são realizados com profundo respeito aos princípios da tradição bantu, marcando o fortalecimento dos laços entre a comunidade, seus ancestrais e os elementos sagrados da terra. É uma festa de reafirmação da fé, da identidade e da conexão com as raízes africanas.
Setembro- Festa dos Caboclos (Ancestralidade brasileira e força da terra)
A Festa dos Caboclos é uma celebração profundamente enraizada na espiritualidade do Candomblé de Angola, dedicada à ancestralidade indígena — os primeiros habitantes desta terra, que acolheram, protegeram e caminharam ao lado dos negros escravizados em luta por liberdade.
Nessa festa, louvamos os Caboclos, espíritos fortes, sábios e conectados com a mata, com as ervas, com os rios e com a fartura da terra. São guias que representam resistência, cura, liberdade e comunhão com a natureza.
É um momento de gratidão e pedido: agradecemos pelo alimento, pela força, pela proteção e pela fartura, e pedimos que nunca falte o sustento, o axé e a união entre os povos.
A festa é marcada por cantos, danças e folhas, reverenciando os caminhos abertos por aqueles que lutaram e ainda lutam pela dignidade e pelo respeito às raízes. Louvar os Caboclos é reconhecer a alma brasileira que pulsa na terra, na floresta, no corpo e no espírito de um povo que resiste com fé, sabedoria e amor à natureza.
Outubro: Festa de Dandalunda, Kissimbi e Telekompensu
A Festa de Dandalunda, Kissimbi e Telekompensu é um louvor à doçura, ao cuidado, à beleza e à vitalidade da juventude no Candomblé de Angola. Celebra-se aqui a força feminina das águas doces, o encantamento da natureza e o equilíbrio entre força e suavidade.
Dandalunda é a grande mãe, senhora do amor, da fertilidade e da sensibilidade. É a presença materna que gera, acolhe e protege.
Kissimi, equivalente a Oxum na tradição bantu, é a N’kisse das águas doces, da vaidade sagrada, do ouro e da doçura que cura. Ela rege os sentimentos e as relações afetivas, trazendo beleza e equilíbrio ao mundo.
Telekompensu, Nkisse jovem e encantado, é associado à caça e às águas, assim como Logunedé. Ele representa a força juvenil.
Dezembro – Derrubada do Boi
(Festa de Exu – Encerramento do Ciclo Anual)
Em dezembro, celebramos a Derrubada do Boi, uma das festas mais intensas e simbólicas do calendário do Candomblé de Angola. Esse ritual é dedicado aos Exus, guardiães dos caminhos, mensageiros entre os mundos e protetores da casa e de todos os seus filhos.
A festa marca o encerramento do ciclo anual, momento de agradecer pelas vitórias, aprender com os desafios e renovar os laços com o sagrado. Exu é movimento, transformação e equilíbrio, e sua presença garante que tudo continue fluindo com ordem e justiça.
A Derrubada do Boi é repleta de força, canto, dança e alegria. É quando se reverencia a vida em sua totalidade e se firma o axé para o novo ciclo que se aproxima. Exu recebe o último boi do ano e, com ele, leva tudo aquilo que precisa ser encerrado, abrindo os caminhos para o que virá.